A Formação a Distância está longe de ser um conceito novo, trata-se na prática de uma bem sucedida forma de incorporação das novas tecnologias de comunicação, ao serviço da formação. Ao longo dos anos a formação foi incorporando tecnologias e percorrendo o caminho que conduziu ao e-Learning, tornando a aprendizagem ao longo da vida cada vez mais uma realidade acessível a todos.

 Pedro Ramalho

“As raízes da formação são amargas, mas os frutos são doces”

Aristóteles

A História da Formação a Distância confunde-se com a História das revoluções tecnológicas. Sempre que surge uma nova tecnologia, o sector da educação galvaniza-se em torno de um conjunto de expectativas criadas pelo aumento da esperança de operar alterações neste sector. Mas à semelhança de Prometeu, vemos as entranhas, da aplicação da tecnologia aos velhos métodos de ensino, serem arrancadas pelo fracasso e regenerarem-se pela esperança depositada numa outra tecnologia que entretanto surgiu. “A história da utilização da tecnologia na aprendizagem está repleta de promessas e desilusões.” Mark, J. R., e-Learning – strategies for delivering knowledge in digital age.

Se fizermos o inverso caminho de kronos, e recuarmos no tempo até ao século XIV, é impossível contornar o papel que o prelo de Gutenberg teve na duplicação e distribuição em massa, de informação no formato escrito. A invenção da tipografia provocou o aumento considerável de formatos escritos, nomeadamente livros, até então produto da ocupação de sacerdotes copistas, que das profundezas dos mosteiros aspiravam à perfeição.
Para a alquimia da educação a distância faltavam ainda ingredientes, os serviços postais eram ainda incipientes ou inexistentes. O desenvolvimento destes dois pólos, principalmente a consolidação dos serviços postais, levou à criação das primeiras escolas por correspondência.
Em 1840, já com os serviços postais estabelecidos e fortalecidos, foi criado o Sir Isaac Pitman Correspondence College, uma das mais antigas escolas europeias de ensino por correspondência.

Nos finais do séc. XIX e início do séc. XX tem inicio uma nova revolução tecnológica, surge o telégrafo, o telefone e a rádio. Surgem também os primeiros filmes, Thomas Edison criou grandes expectativas, que viriam a sair furadas, ao afirmar que os filmes iriam substituir os livros e os Professores. Os filmes, muito embora não tenham ganho muitos adeptos, tiveram alguns casos de sucesso, é o caso dos filmes desenvolvidos pelos militares americanos durante a 2ª Guerra Mundial. Foram produzidos dezenas de filmes, sobre as mais diversas temáticas, para preparação das tropas que iam entrar em Combate. Não é à toa que os militares continuam a ser pioneiros na área da formação a distância.

Na década de 40 do séc. XX, surge a televisão, com ela mais uma tentativa da adaptar a tecnologia ao ensino e à formação. A caixa mágica viria a revelar-se uma desilusão, mesmo com o aparecimento do vídeo - gravador, a unilateralidade da transferência de informação e a falta de interacção tornaram a televisão um fracasso. Mas para isso muito contribuiu também a falta de preocupações pedagógicas e a falta de cuidado com o design instrucional, que tornaram a televisão monótona.
A utilização de vídeos em situações de aprendizagem também não foi pacífica, os professores tinham dificuldade em integrá-los nos métodos de ensino que usavam, não conseguindo avaliar correctamente, quando estes meios eram o método mais adequado. Acrescia ainda a desvantagem de um pequeno ecrã não ser adequado, para uma sala de aula. A dificuldade de colocar os meios técnicos a funcionar, era frequente os professores perderem metade da aula só para colocar o vídeo a funcionar, conjugados com a falta de condições sonoras e de luminosidade, contribuíram para o fracasso desta tecnologia.

Mas não houve só fracassos, em Dezembro de 1964 foi criada a Telescola, tendo sido apenas encerrada em 2003. Uma geração de portugueses habituou-se a assistir às aulas através da televisão. As aulas duravam cerca de 15 minutos, após o que os alunos trabalhavam durante mais 30 minutos, monitorizados por um professor, que administrava fichas de trabalho e textos auxiliares. Estas aulas em sistema de antena aberta abrangiam o 5º e 6º anos de escolaridade. Muito criticado pela standardização e pela falta de liberdade dos professores, foi fundamental para a escolarização de alunos de aldeias remotas. Este projecto foi reconhecido internacionalmente, pela qualidade dos materiais e pelos resultados alcançados, durante os trinta anos de funcionamento teve médias de aprovação na ordem dos 90%. Sendo certo que não se tratou de um sistema de formação a distância puro, dado que os alunos tinham de estar num espaço físico a horas predefinidas e dispunham de um tutor, foi sem dúvida um caso de sucesso. Também a Madeira beneficiou desta tecnologia, muito embora tenha terminado em 2000, três anos antes da sua extinção no continente. Em resultado desta extinção ficou a DRE com um espólio considerável de conteúdos e com um centro multimédia com capacidade de produção de conteúdos regionais.

Na actualidade têm sido feitas experiências com a TV Cabo através da televisão interactiva, mas com a falta de adesão do mercado, aliado a problemas de design e usabilidade das caixas, está muito perto do fracasso, apesar do telespectador poder interagir e participar.Não se pense que todas as experiências com formação televisiva foram um fracasso. Séries inesquecíveis como a "Rua Sésamo", "A Abelha Maia" o "Nodi" carregaram fortes mensagens educativas, para além de emocionarem milhões com as suas histórias. Os estúdios Disney pautam o desenvolvimento de filmes por lições de Vida. Na actualidade outros casos de sucesso surgem, o canal História, Discovery, People & Arts e Odisseia.

As décadas de 70 e 80 trouxeram mais uma revolução tecnológica. Surge então o CBT (computer based training) que começou a crescer à medida que o computador pessoal se generalizava, quer nas Empresas quer nos Lares. Basicamente o CBT tratava-se de uma forma de aprendizagem em que o formando adquiria um CD-ROM ou um conjunto de CD-ROMS com conteúdos e realizava as aprendizagens sozinho. Mas se por um lado a redução do preço do hardware era um incentivo, por outro lado havia enormes barreiras, a incompatibilidade entre IBM, APPLE e UNIX, as diferenças entre hardware e software, causavam inúmeros problemas técnicos e dificultava o surgir de standards. A necessidade de duplicar as aplicações para os diferentes sistemas, tornava-os caros e ficavam obsoletos de forma muito rápida. Um dos motivos que ajudou ao fracasso do CBT foi o facto dos programas serem quase só texto corrido, replicando o modelo de livro, logo descurando o design.

Com o fim do ciclo do CBT, surge a Internet, com algumas das limitações do CBT ao nível do hardware e software, quebrou a definitivamente com a sensação de isolamento. A Internet criou novas expectativas, que continuam ainda a mexer o mercado, visto que se encontram  ligadas à facilidade de acesso, aos baixo custos de actualização de conteúdos e à interacção com o formador e com outros formandos. Acompanhada pelo comércio electrónico e pela economia “dotcom” a aposta na utilização da web e no desenvolvimento de novas metodologias, a formação via Internet é uma realidade.

O desenvolvimento das didácticas e métodos, acompanhada pela criação de plataformas adequadas a essas metodologias, que integram ferramentas síncronas e assíncronas, tudo acessível a partir de um computador ligado à Internet que pode estar equipado apenas com um browser, permitindo aos formadores e aos formandos uma maior proximidade.  O desenvolvimento de conceitos como o b-Learning (blended learning), que conjugam a formação a distância com sessões presenciais, podem não ser ainda a Pedra Filosofal, mas renovam-nos a esperança. 

 
Referências:

http://www.outreach.psu.edu/de/history.html
http://www.educ.ttu.edu/online/maushak/5370/notes/history.htm
http://www.uwex.edu/disted/gooch.htm
http://sqzm14.ust.hk/distance/evolution-distance-learning.htm
http://ead.no.sapo.pt/mundo/portugal.html
http://pwp.netcabo.pt/0437301501/mas/mas17.htm
http://www.e-learningguru.com/gloss.htm
http://www.webopedia.com/term/c/cbt.html